O relato de Deuteronômio à primeira vista parece ser uma injustiça. Moisés que deu toda a vida pelo povo de Israel, agora não pode entrar em Canaã. algumas vezes nos sentimos assim no trabalho, na escola e até mesmo na igreja. Ellen White fala com propriedade sobre a morte de Moisés no livro Patriarcas e Profetas a partir da página 469. A leitura a seguir nos ensina muito sobre o que realmente aconteceu, e nos dá a segurança de que se trabalhamos para Deus, precisamos confiar e esperar, pois Ele está no controle de tudo.
O desaparecimento de seu amado líder seria para Israel uma repreensão muito maior do que qualquer que pudessem haver recebido, caso tivesse sua vida e missão continuado. Deus queria levá-los a compreender que não deveriam tornar a vida de seu futuro chefe tão cheia de provações como fizeram a de Moisés. Deus fala a Seu povo pelas bênçãos concedidas; e, quando estas não são apreciadas, Ele lhes fala pelas bênçãos que lhes remove, a fim de que sejam levados a ver seus pecados, e voltem a Ele de todo o coração. Naquele mesmo dia veio a Moisés a ordem: "Sobe... ao Monte Nebo, ... e vê a terra de Canaã, que darei aos filhos de Israel por possessão. E morre no monte, ao qual subirás; e recolhe-te aos teus povos." Deut. 32:49 e 50. Moisés havia muitas vezes deixado o acampamento, em obediência aos chamados divinos, a fim de ter comunhão com Deus; mas agora deveria partir para um novo e misterioso propósito. Devia sair para entregar a vida nas mãos de seu Criador. Moisés sabia que iria morrer só; a nenhum amigo terrestre seria permitido atendê-lo em suas últimas horas. Havia um mistério e espanto em torno da cena que perante ele estava, da qual seu coração se retraía. A mais severa prova era sua separação do povo de seus cuidados e amor, povo este com o qual seu interesse e sua vida haviam tanto tempo estado unidos. Mas ele aprendera a confiar em Deus, e com implícita fé confiou-se e ao povo a Seu amor e misericórdia.
Foi-lhe agora apresentada uma vista panorâmica da terra da promessa. Todas as partes do território estenderam-se diante dele, não desmaiadas e vagas à turva distância mas mostrando-se claras, distintas e belas à sua visão deleitada. Naquele quadro foi ela apresentada, não como então se mostrava, mas como se tornaria com a bênção de Deus, sob a posse de Israel. Parecia estar a olhar para um segundo Éden. Havia montanhas revestidas dos cedros do Líbano, colinas pardacentas pelos olivais, e olentes pelo perfume das vinhas; amplas e verdes planícies a brilhar com flores, e abundantes em frutos; aqui as palmeiras dos trópicos, ali os campos ondulantes de trigo e cevada; vales ensolarados, melodiosos com o murmúrio dos regatos e o cântico dos pássaros, boas cidades e belos jardins, lagos profusos na "abundância dos mares", rebanhos a pascerem nas colinas, e mesmo entre as rochas os acumulados tesouros da abelha silvestre. Era na verdade uma terra como a que Moisés, inspirado pelo Espírito de Deus, descrevera a Israel: "Bendita do Senhor... com o mais excelente dos céus, com o orvalho, e com o abismo que jaz abaixo, e com as mais excelentes novidades do Sol, ... e com o mais excelente dos montes antigos, ... e com o mais excelente da terra, e com a sua plenitude." Deut. 33:13-16.
Moisés viu o povo escolhido estabelecido em Canaã, estando cada tribo em sua própria possessão. Teve uma perspectiva de sua história depois do estabelecimento na Terra Prometida; estendeu-se diante dele a história longa e triste de sua apostasia, e punição desta. Viu-os, por causa de seus pecados, dispersos entre os gentios, estando afastada a glória de Israel, em ruínas a sua bela cidade, e o povo desta cativo em terras estranhas. Viu-os restabelecidos na terra de seus pais, e finalmente trazidos sob o domínio de Roma.
Permitiu-se-lhe olhar através da corrente do tempo, e ver o primeiro advento de nosso Salvador. Viu Jesus como uma criancinha em Belém. Ouviu as vozes da hoste angélica romper em alegre cântico de louvor a Deus e paz na Terra. Viu no céu a estrela guiando os magos do Oriente a Jesus, e uma grande luz lhe inundou a mente ao recordar estas palavras proféticas: "Uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel." Núm. 24:17. Contemplou a humilde vida de Cristo em Nazaré, Seu ministério de amor e simpatia e Suas curas, Sua rejeição por uma nação orgulhosa e incrédula. Com espanto ouviu a jactanciosa exaltação da lei de Deus por parte deles, ao mesmo tempo em que desprezavam e rejeitavam Aquele por quem a lei foi dada. Viu Jesus sobre o Monte das Oliveiras ao despedir-Se com prantos da cidade que Ele amava. Quando Moisés contemplou a rejeição final daquele povo tão altamente abençoado pelo Céu, povo por quem havia labutado, orado e se sacrificado, por amor do qual estivera disposto a que seu próprio nome fosse riscado do livro da vida; quando ouviu aquelas terríveis palavras: "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta" (Mat. 23:38), seu coração contorceu-se de angústia, e lágrimas amargas lhe caíram dos olhos, compartilhando da tristeza do Filho de Deus.
Seguiu o Salvador ao Getsêmani, e viu a agonia no horto, a traição, a zombaria e os açoites - e a crucifixão. Moisés viu que assim como levantara a serpente no deserto, do mesmo modo o Filho de Deus deveria ser levantado, para que quem quer que nEle cresse, não perecesse mas tivesse a vida eterna. João 3:15. Mágoa, indignação e horror encheram o coração de Moisés, ao ver a hipocrisia e ódio satânico manifestados pela nação judaica contra seu Redentor, o poderoso Anjo que havia ido diante de seus pais. Ouviu o grito agonizante de Cristo: "Meu Deus, Meu Deus, por que Me desamparaste?" Mar. 15:34. Viu-O jazendo no túmulo novo de José. As trevas da aflição sem esperanças pareciam rodear o mundo. Mas olhou de novo, e viu-O saindo como vencedor, e subindo ao Céu acompanhado por anjos em adoração, e levando uma multidão de cativos. Viu as portas resplendentes abrirem-se para O receberem, e a hoste celestial com cânticos de triunfo dar as boas-vindas ao seu Comandante. E aí foi-lhe revelado que ele mesmo seria um dos que serviriam ao Salvador, e abrir-Lhe-iam as portas eternas. Olhando para aquela cena, seu rosto resplandeceu com um santo brilho. Quão pequenas pareciam as provações e sacrifícios de sua vida, comparados com os do Filho de Deus! quão leves em contraste com o "peso eterno de glória mui excelente"! II Cor. 4:17. Regozijou-se de que se lhe tivesse permitido, mesmo em pequena medida, ser participante dos sofrimentos de Cristo.
Moisés contemplou os discípulos de Jesus ao saírem para levar Seu evangelho ao mundo. Ele viu que, embora o povo de Israel "segundo a carne" (Rom. 9:3) houvesse deixado de alcançar o elevado destino a que Deus os chamara, e tivessem pela sua incredulidade deixado de tornar-se a luz do mundo; embora tivessem desprezado a misericórdia de Deus, e se despojado de suas bênçãos como povo escolhido, viu Moisés que Deus, todavia, não rejeitara a semente de Abraão; os gloriosos projetos que Ele empreendera realizar por meio de Israel seriam cumpridos. Todos os que por meio de Cristo devessem tornar-se filhos da fé, seriam contados como semente de Abraão; eram herdeiros das promessas do concerto; como Abraão eram chamados a guardar e tornar conhecidos ao mundo a lei de Deus e o evangelho de Seu Filho. Moisés viu a luz do evangelho a resplandecer, por intermédio dos discípulos de Jesus, àqueles que estavam assentados em trevas (Mat. 4:16), e milhares nas terras dos gentios a arrebanhar-se sob o resplendor daquela luz que se erguia. E, vendo, regozijou-se no crescimento e prosperidade de Israel.
E agora uma outra cena passa diante dele. Havia-se-lhe mostrado a obra de Satanás levando os judeus a rejeitarem a Cristo, enquanto professavam honrar a lei de Seu Pai. Vê agora o mundo cristão sob um engano idêntico, professando aceitar a Cristo enquanto rejeitam a lei de Deus. Ouvira dos sacerdotes e anciãos o grito frenético: "Fora", "Crucifica-O, crucifica-O" (João 19:15), e agora ouve dos professos ensinadores cristãos este brado: "Fora com a lei!" Viu o sábado pisado a pés, e uma instituição espúria estabelecida em seu lugar. Novamente Moisés se encheu de espanto e horror. Como poderiam aqueles que criam em Cristo rejeitar a lei proferida por Sua própria voz sobre o santo monte? Como poderia qualquer que tema a Deus pôr de lado a lei que é o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra? Com alegria Moisés viu a lei de Deus ainda honrada e exaltada por uns poucos fiéis. Viu a última grande luta dos poderes terrestres para destruir os que guardam a lei de Deus. Olhou antecipadamente para o tempo em que Deus Se levantaria para punir os habitantes da Terra, pela sua iniqüidade, e os que temeram o Seu nome estarão cobertos e ocultos no dia de Sua ira. Ouviu o concerto de paz de Deus com os que guardaram Sua lei, ao emitir Ele Sua voz de Sua santa habitação, e tremerem os céus e a Terra. Viu a segunda vinda de Cristo em glória, os justos mortos ressuscitados para vida imortal, e os santos vivos trasladados sem ver a morte, e juntos ascendendo com cânticos de alegria para a cidade de Deus.
Ainda outra cena se desdobrara à sua vista - a Terra livre da maldição, mais linda do que a bela terra da promessa, que tão poucos momentos antes se estendera perante ele. Não há pecado, e a morte não pode entrar ali. Encontram, ali, as nações dos salvos o seu lar eterno. Com indizível alegria Moisés olha para a cena - a realização de um livramento mais glorioso do que jamais esboçaram as suas mais radiosas esperanças. Passada para sempre sua peregrinação terrestre, entrou finalmente o Israel de Deus na boa terra.
Desvanece-se de novo a visão, e seus olhos repousam sobre a terra de Canaã, que se estende a distância. Então, como um guerreiro cansado, deita-se para repousar. "Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme ao dito do Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; ninguém tem sabido até hoje a sua sepultura." Deut. 34:5 e 6. Muitos que não estiveram dispostos a atender os conselhos de Moisés enquanto se achava com eles, estariam em perigo de cometer idolatria com o seu cadáver, caso soubessem o lugar de seu sepultamento. Por esta razão foi oculto aos homens. Anjos de Deus, porém, sepultaram o corpo de Seu fiel servo, e vigiavam a solitária sepultura.
"Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera cara a cara; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor enviou para fazer... em toda a mão forte, e em todo o espanto grande, que obrou Moisés aos olhos de todo o Israel." Deut. 34:10-12.
Nunca, antes que fossem exemplificados no sacrifício de Cristo, foram a justiça e o amor de Deus mais notavelmente demonstrados do que em Seu trato com Moisés. Deus excluiu Moisés de Canaã, a fim de ensinar uma lição que jamais deveria ser esquecida - de que Ele exige estrita obediência, e de que os homens devem acautelar-se em não tomarem para si a glória que é devida a seu Criador. Ele não podia atender a oração de Moisés, de que lhe fosse dado partilhar da herança de Israel; mas não Se esqueceu de Seu servo, nem o abandonou. O Deus do Céu compreendia os sofrimentos que Moisés havia suportado; notara cada ato de serviço fiel durante aqueles longos anos de conflito e provações. No cume de Pisga, Deus chamou Moisés a uma herança infinitamente mais gloriosa do que a Canaã terrestre.
No monte da transfiguração Moisés estava presente com Elias, que fora trasladado. Foram enviados como portadores de luz e glória da parte do Pai a Seu Filho. E assim a oração de Moisés, proferida havia tantos séculos antes, finalmente se cumpriu. Estava ele na "boa montanha" (Deut. 3:25), dentro da herança de seu povo, dando testemunho dAquele em quem se centralizavam todas as promessas de Israel. Tal é a última cena revelada aos olhos mortais na história daquele homem tão altamente honrado pelo Céu.
Que tal agradecer ao Senhor agora, nesta situação? que tal reafirmar a confiança em Seus planos? pense nisso enquanto reflete nesta música:
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